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O que há de novo em Doença Diverticular?

  • Foto do escritor: Fernanda Ramos
    Fernanda Ramos
  • 18 de fev. de 2020
  • 4 min de leitura

Ou, nem tão novo assim, mas não praticado/conhecido 😉


Diverticulose é uma condição complexa e multifatorial, que resulta da herniação da mucosa do cólon

por defeitos na musculatura. Os divertículos são como “bolsos” e estão localizados em regiões bastante vascularizadas.


É um achado comum em colonoscopia para rastreamento de câncer de cólon em pessoas acima dos 50 anos. É mais comum em homens do que em mulheres até a sexta década de vida, quando passa a ser mais comum em mulheres. Aos 85 anos, 2/3 dos indivíduos possui doença diverticular.

A doença é classificada em assintomática, sintomática, não complicada e complicada.



Apenas 25% a 35% das pessoas com diverticulose apresentam sintomas com episódios recorrentes. Os sintomas incluem dor abdominal, alterações no padrão de evacuação e gases, podendo se manifestar com sangramento também.


A diverticulose não é uma doença progressiva e os mecanismos envolvidos no seu desenvolvimento ainda não estão completamente estabelecidos.

Uma das teorias mais antigas e disseminadas indica como mecanismo disparador o trauma mecânico no lúmen intestinal, causado por alimentos pouco digeríveis, como grãos e sementes, sendo responsável também por levar a diverticulite e o sangramento dos divertículos.


No entanto, as explicações mais aceitas estão relacionadas a alterações neurais e na microbiota intestinal.

O desenvolvimento dos divertículos está associado, então, ao aumento da pressão em áreas com parede enfraquecida no cólon, devido degradação neural, comprometendo a integridade da parede do cólon. Também está associado à alterações na microbiota intestinal, por inflamação crônica, com redução de bactérias com propriedade anti-inflamatória, causada pelo aumento do tempo de trânsito intestinal.



Como a teoria mais difundida é a do trauma mecânico, praticamente todas as pessoas com doença diverticular são orientadas a evitar consumir grãos e sementes, milho, nozes e outros alimentos com cascas para reduzir o risco de complicações, mesmo sem sintomas da doença. No entanto, há pouca evidência que suporte essa recomendação.

O Health Professionals Follow-up Study, já em 2008 demonstrou que o consumo de grãos e sementes, milho e nozes não se associou ao aumento do risco de desenvolvimento da diverticulose e de complicações da doença.


Há ainda evidências recentes demonstrando que dietas ricas em sementes, grãos e oleaginosas podem ter efeito protetor, devido ao seu alto teor de fibras.


A gente, em pleno 2020, precisa reconsiderar a recomendação, né?


Dentre os fatores de risco para a diverticulose estão o baixo consumo de fibras na alimentação, consumo aumentado de carne vermelha, gorduras e açúcares simples, inflamação crônica, disbiose intestinal e dismotilidade colônica (por maior tempo de trânsito intestinal aka constipação), hipersensibilidade visceral e tabagismo. Além disso, estudos tem demonstrado que pessoas com obesidade apresentam maior risco para diverticulite aguda e sangramento, provavelmente pelo aumento de gordura corporal e suas complicações metabólicas.

Aspirina, antiinflamatórios não esteroidais e opióides podem aumentar o risco de perfuração e abscesso em pessoas com doença diverticular.


Curiosidade: pelas alterações intestinais e, sendo o intestino nosso segundo cérebro, pessoas com diverticulite são mais propensas a desenvolver distúrbios de humor

São recomendações das principais diretrizes:

  • Alimentação rica em fibras, conforme recomendações dos guias alimentares (em doença sem sintomas/não complicada)

  • Não é recomendada a restrição de grãos, sementes e alimentos que contém cascas

  • Atividade física regular

  • Manutenção de peso adequado

  • Em casos de sintomas de intestino irritável, como dor abdominal, diarreia ou constipação, tratar como síndrome do intestino irritável

  • Cessação do tabagismo (por aumentar em cerca de 23% o risco de diverticulite aguda)

  • Não é recomendado tratamento medicamentoso para indivíduos assintomáticos

  • O tratamento cirúrgico só é indicado em caso de doença complicada ou de alto risco. É o único método que previne recorrência.


Em caso de hospitalização por agudização:

  • Não é necessária restrição alimentar como jejum ou dieta líquida (considerar o risco individual para complicações) - alimentação conforme tolerância e sintomas.

  • Jejum na doença aguda é inefetivo na redução da inflamação, risco de infecção e outras complicações.

  • Após a redução dos sintomas, realizar transição de dieta pobre em fibra para dieta rica em fibra


Associado ao consumo de alimentos ricos em fibras, tem sido proposto ainda o uso de probióticos, com foco em alteração da microbiota intestinal, mas ainda não há resultados claros no seu uso e o tipo de cepa adequada na redução dos sintomas e na prevenção de sua recorrência.


Alimentar-se adequadamente, não fumar e fazer atividade física regular faz muito bem pro seu intestino, e não só pra ele, mas para sua saúde de modo geral. Pensa nisso 😉

Strate LL, Liu YL, Syngal S, Aldoori WH, Guovanucci EL. Nut, Corn, and Popcorn Consumption and the Incidence of Diverticular Disease. JAMA. 2008;300(8):907-914

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