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Paquistão e o tal do Sal cor Rosa

  • Sabrina Wertzner
  • 6 de nov. de 2017
  • 3 min de leitura

Muito me intriga esse tal de Sal Rosa do Himalaia. Não apenas, vira e mexe alguém super expert - formado pelo Google - vem me contestar sobre os tão falados benefícios desse "milagre" dos últimos anos.

1. A começar da pesquisa inicial: não há nem sequer UM artigo no PubMed que faça referência deste "milagre" e seus benefícios - e olha que eu usei váaaarios termos ("salt" AND "himalayan" AND "benefits" / "pink" AND "himalayan" AND "sea salt" OR "salt" / "Pink Himalayan Sea Salt" / "sal" AND "rosa" AND "himalaia" / "pakistan" AND "salt").

Ou seja: nenhuma meta-análise, nenhum estudo randomizado, controlado, que possa corroborar com o que todos os sites que vendem este produto dizem.

2. Sobre o Himalaia:

É um lugar bonito. Pelo menos parece pelo Google Imagens (foto: Wikipedia).

Os Himalaias são a mais alta cadeia montanhosa do mundo e forma um arco de cerca de 2500 km de extensão. A cordilheira abrange cinco países (Paquistão, Índia, China, Nepal e Butão) e nela se situa a montanha mais alta do planeta, o Monte Everest.

É la no Himalaia mais especificamente na cidade de Punjab, Paquistão, que estão localizadas algumas minas de sal (Khewra, Kalabargh), de onde milhares de mineiros com péssimas condições de trabalho e salários miseráveis extraem o sal cor de rosa.

Crédito: Luke Duggleby

Clique NESTE LINK e veja essa e outras fotos da galeria

dessas minas de sal e seus trabalhadores, retratada por Luke Duggleby.

3. O tal do Sal Rosa:

3.1. Por que o sal é desta cor?

O sal paquistanês sofre essa alteração de cor por conta de IMPUREZAS, elementos como o cálcio, ferro, potássio, cobre, chumbo, cromo e magnésio, em sua composição. Sem falar da presença de mercúrio, arsênio, cromo, rádio, urânio, polônio, e muitos outros considerados tóxicos, que podem causar prejuízos no organismo humano pelo consumo excessivo.

3.2. É seguro seu uso?

Como disse no ítem 1 e 3.1., ainda não se têm estudos, especialmente meta-análises, que podem confirmar sua segurança.

Ai Sa... Mas na loja-natureba que eu comprei me falaram que o Sal Rosa-Gourmet-do Himalaia tem mais de 80 minerais na composição e que pode curar doenças...

Olha, não que sua composição não seja verdade, mas também não significa que todos esses minerais sejam ingeríveis. Como disse, não há nenhum estudo que comprove esses benefícios. Eu, se fosse você, não ficaria muito confortável comendo elementos tóxico e radioativos, mesmo que em frações pequenas.

3.3. Qual a diferença deste para os outros tipos de sal?

ND: Não disponível.

3.4. Iodo

Desde a década de 1950, o Ministério da Saúde tornou obrigatório a adição de iodo no sal, com o objetivo de reduzir a prevalência de bócio na população. Como resultado, observou-se uma significativa redução de 20,7% para 1,4% em 2000.

Como você pôde notar na tabela, o sal rosa não faz referência ao Iodo, justamente porque a grande maioria das indústrias que o comercializa não fazem essa adição.

4. Sustentabilidade:

4.1. Mineiros em condições insalubres extraem das minas e ganham muito pouco na venda. Vem então uma empresa tu-ru-ru que embala esse sal de forma gourmet e vende pra você como se fosse uma relíquia - se bem que, se você considerar como um recurso finito, é sim (só que eu teria uma linda pedra e a consideraria preciosa).

4.2. O produto atravessa o mundo pra você consumir! Imagina quanto CO2 foi emitido pra que você cozinhasse com esse sal!

Por fim, me pergunto: como o Sal Rosa do Paquistão tornou-se, de repente, um sucesso tão grande?

WIKIPEDIA. Himalaias. Disponível em: <https://pt.wikipedia.org/wiki/Himalaias>. Acesso em: 05 nov. 2017.


WIKIPEDIA. Himalayan salt. Disponível em: <https://en.wikipedia.org/wiki/Himalayan_salt>. Acesso em: 05 nov. 2017.


HALL, Harriet. Pink Himalayan Sea Salt: An Update. 2017. Disponível em: <https://sciencebasedmedicine.org/pink-himalayan-sea-salt-an-update/>. Acesso em: 05 nov. 2017


Qazi Muhammad Sharif; Mumtaz Hussain; Muhammad Tahir Hussain (December 2007). Viqar Uddin Ahmad; Muhammad Raza Shah, eds. "Chemical Evaluation of Major Salt Deposits of Pakistan" (PDF). Journal of the Chemical Society of Pakistan. Chemical Society of Pakistan. 29 (26): 570–571. Archived (PDF) from the original on March 6, 2016. Retrieved September 3,2017.


BALOCH, Muzahir Ali et al. A Study on Natural Radioactivity in Khewra Salt Mines, Pakistan. Journal Of Radiation Research, [s.l.], v. 53, n. 3, p.411-421, 2012. Oxford University Press (OUP). http://dx.doi.org/10.1269/jrr.11162.


INMETRO. Sal para Consumo Humano. 2004. Disponível em: <http://www.inmetro.gov.br/consumidor/produtos/sal2.asp>. Acesso em: 06 nov. 2017.

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