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“Viscoso, mas gostoso”: uso de insetos na alimentação humana

  • Foto do escritor: Fernanda Ramos
    Fernanda Ramos
  • 17 de jun. de 2019
  • 3 min de leitura

Entomofagia ou consumo de insetos como fonte alimentar é uma prática milenar, especialmente em países orientais. Tanto é comum que existem livros de culinária só sobre como preparar e consumir insetos!

São cerca de 324 espécies documentadas para consumo, mas regularmente 10 a 20 tipos são consumidas.


E o consumo de insetos está mais próximo da nossa realidade ocidental do que se imagina.


A Organização Mundial da Saúde (OMS), por meio da FAO (Food and Agriculture Organization), encoraja o maior uso de insetos na alimentação humana por considerá-lo uma potencial fonte sustentável de alimento e uma saída viável às preocupações com segurança alimentar no mundo, já que a desnutrição proteica e deficiência de micronutrientes ainda é uma realidade em vários locais.


Existem ainda motivos ambientais para se incentivar o consumo de insetos na nossa alimentação: a produção de animais para fornecimento de proteína utiliza muitos recursos naturais como a água doce e há necessidade de espaço, reduzindo, em consequência, os habitats naturais, além de ser fonte de poluição.


Insetos requerem menos água, espaço, tem crescimento e desenvolvimento rápido e poluem menos para produzir a mesma quantidade de proteína.


Neste ponto, você já notou uma informação que parecia só lenda popular: insetos tem proteína!


Os insetos são ricos em proteínas de alto valor biológico, por terem bom conteúdo dos aminoácidos essenciais e serem bem digeridos e aproveitados pelo organismo. Cerca de 50% do peso do inseto é proteína. Há também quantidade adequada de zinco, ferro, cálcio, vitaminas do complexo B, ácido fólico, gorduras essenciais e compostos antioxidantes.


Gafanhotos contém mais ferro em 100g do que a mesma quantidade de carne vermelha (8mg e 6mg, respectivamente).

Insetos também contém quitina, uma fibra, que corresponde a cerca de 13% do peso do inseto seco. Ela tem sido associada a redução importante de colesterol e derivados lipídicos, por aumento da secreção e inibição da absorção intestinal.


No entanto, boa qualidade nutricional não é suficiente para convencer pessoas a consumirem insetos, pois isso depende também de fatores culturais, emocionais e dimensões racionais, como palatabilidade e disponibilidade.


No Ocidente insetos estão associados a sujeira, doenças e morte, chamado de fator “nojo” (“yuck” factor) e isso faz com que as pessoas escolham não comê-los.


Esse nojo é uma emoção básica relacionada a comida, associada com a percepção ou imaginação do gosto, cheiro, textura na boca ou aparência da comida. É uma ferramenta de sobrevivência, de proteção ao consumo de comidas desconhecidas e perigosas.


Por tudo isso, pesquisadores tem explorado a possibilidade de desenvolver produtos à base de insetos que sejam comercializáveis e tenham formatos familiares de consumo.


É claro que você pode comer insetos inteiros como grilos e vermes que podem ser consumidos desidratados ou fritos, como um petisco. Pode consumir na forma de chá ou vinagre de formigas ou besouros aquáticos em sopas. Usar pupas de bicho da seda, cigarra, inseto de bambu, grilos, gafanhotos e vespas cozidos, assados ou fritos.


Mas esses mesmos insetos podem aparecer de forma invisível em farinhas, proteína isolada em pó, óleos, e em preparações como kebab, hambúrguer, charutos de uva (dolmades), almôndegas ou até mesmo sushi.


Seu cultivo em larga escala pode alterar o meio ambiente, particularmente quando a população de insetos aumenta rapidamente num local específico em pequeno período de tempo. Logo, políticas regulamentadoras precisam ser estabelecidas para garantir o desenvolvimento e seu uso como alimento sem afetar a saúde humana, prejudicar a agricultura e o meio ambiente.


Quanto às preocupações com a saúde, insetos são seguros para consumo quando são corretamente processados e armazenados; e, similar a outros alimentos ricos em proteínas, podem induzir a reações alérgicas. Se adicionado efetivamente à alimentação humana, deverá haver rotulação adequada, como ocorre com outros alimentos, para proteger aqueles que tem alergias alimentares.


Junto com outras novas fontes de proteína, como algas, fungos e bactérias, insetos podem sim encontrar espaço na cadeia alimentar humana.


E aí, você encararia ?

Salter AM. Insect Protein: A Sustainable and Healthy Alternative to Animal Protein? J Nutr, 2019.

Poortvliet pm, van der Pas L, Mulder BC, Fogliano V. Healthy, but Disgusting: An Investigation Into Consumers’Willingness to Try Insect Meat. J Economic Entomol, 2019.


Gessner DK, Schwarz A, Meyer S, Wen G, Most E, Zorn H, et al. Insect Meal as Alternative Protein Source Exerts Pronounced Lipid-Lowering Effects in Hyperlipidemic Obese Zucker Rats. J Nutr 2019;149:566–577.


Feng Y, Chen WM, Zhao M, He Z, Sun L, Wang CY, Ding WF. Edible insects in China: Utilization and prospects. Insect Science, 2018.


Elhassan M, Wendin K, Olsson V, Langton M. Quality Aspects of Insects as Food—Nutritional, Sensory, and Related Concepts. Foods, 2019.


 
 
 

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