Esse tal Burnout...
- Fernanda Ramos
- 25 de nov. de 2016
- 3 min de leitura
Burnout tem se tornado um assunto bastante comum em discussões sobre a vida profissional e o ambiente de trabalho e, em algum momento, a gente pode ter se perguntado ‘Será que tenho Burnout?’ ‘O que exatamente é Burnout e quais os sintomas?’.
Vamos entender melhor sobre essa síndrome?
Cerca de 1/3 da vida é dedicado ao trabalho e este acaba por conferir identidade, determinar as relações interpessoais e de certa forma, dar significado à vida das pessoas. Porém, quando as expectativas e ideais do trabalhador são discrepantes da realidade vivida, podem ocorrer problemas desde insatisfação profissional até exaustão, não pelo trabalho em si, mas pelo clima organizacional e emocional existente no ambiente laboral.
Nos últimos anos, o impacto do trabalho na saúde dos profissionais tem sido mais estudado, chamando atenção para um processo vigente de adoecimento, que afeta as esferas pessoal, social e profissional do trabalhador, com consequências negativas nos âmbitos emocional, cognitivo e comportamental, e consequentemente, na qualidade de vida.
Entre os profissionais afetados pelo estresse crônico relacionado ao trabalho estão aqueles que têm mais contato com pessoas e os profissionais da educação e saúde são os mais atingidos.

O termo Burnout ou esgotamento surgiu em meados de 1970, quando Freunderberguer descreveu casos de gradual desgaste emocional, perda de motivação e redução do comprometimento com o trabalho, decorrente da baixa realização pessoal.
Atualmente, a síndrome é considerada uma questão de saúde pública, pois envolve aumento do risco de suicídio e ideação suicida, aumento do risco de consumo de álcool e agravos ocupacionais, associados a aposentadorias precoces, absenteísmo e rotatividade de trabalhadores. Muitos profissionais afetados acabam por deixar a profissão, mudando de área de atuação.
Os sintomas são graduais e flutuam de acordo com as condições do ambiente laboral. Veja na tabela 1.
Tabela 1. Sintomas físicos e psíquicos da Síndrome de Burnout

Os profissionais mais afetados geralmente são os melhores e mais produtivos, mais auto-críticos, perfeccionistas e comprometidos com o trabalho; também sofrem com privação de sono e não têm balanço adequado da vida pessoal/social com o trabalho. Indivíduos jovens e no primeiro emprego tendem a sofrer mais com o esgotamento, decorrente das expectativas da formação.
O diagnóstico é feito com o Maslach Burnout Inventory (MBI), um questionário autoaplicável desenvolvido no início da década de 1980 por Maslach e Jackson, que mensura o nível de esgotamento profissional a partir das 3 dimensões.
Em dois estudos brasileiros, da atenção primária, encontrou-se mais da metade dos profissionais com risco elevado e moderado para Burnout. Entre os profissionais da terapia intensiva encontra-se sintomas de Síndrome de Burnout severa em aproximadamente 25% a 33%.
No entanto, o Burnout pode ser prevenido/reduzido com ações no âmbito individual e institucional.
Individualmente, é importante reconhecer as fragilidades e procurar assistência quando necessário, mas também construir espaços mais saudáveis no ambiente de trabalho, atentar-se ao auto-cuidado, assegurando descanso adequado, prática de exercícios físicos, relaxamento e lazer. É essencial estabelecer um balanço adequado entre trabalho e vida pessoal/social.
Enquanto instituição é fundamental estabelecer e sustentar ambientes de trabalho saudáveis, com ações como redefinição e reorganização dos processos de trabalho, engajamento dos profissionais, melhora na comunicação, colaboração e reconhecimento profissional.
Que tal repensar e reorganizar nossa vida profissional?
Referências
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