HIV e os avanços da ciência
- Fernanda Ramos
- 2 de dez. de 2016
- 4 min de leitura
Nessa semana já falamos de prevenção, tratamento, fizemos uma reflexão sobre o diagnóstico e demos algumas dicas culturais sobre o tema HIV/AIDS. Hoje é dia de falar sobre os esforços atuais da ciência sobre a doença. Vamos lá?

Desde a descoberta do HIV, há quase 35 anos, muitos avanços em prevenção e tratamento foram feitos. A terapia antirretroviral, por exemplo, é capaz de reduzir a carga viral a níveis indetectáveis, porém não elimina o vírus, que continua a replicar de forma mais lenta. E é nisso que se tem empenhado a maior parte dos estudos: na eliminação desses reservatórios de células inativas e também no desenvolvimento de vacinas que previnam a doença.
A ativação e eliminação desses reservatórios de células infectadas inativas é considerado um importante passo para a redução do tempo de tratamento e para a reconstituição imune mais facilitada, sendo considerada a maior barreira para uma possível cura do HIV.
As pesquisas se baseiam no desenvolvimento de proteínas imunomoduladoras que possam agir na detecção e expressão do vírus sem atividade para destruição pelo sistema imune. Alguns resultados já foram publicados e vamos falar um pouco sobre eles.
Foi estudado um tratamento combinado com um ativador de uma proteína imunomoduladora chamada PKA, que foi efetivo na reativação do HIV das células inativas, o que pode vir a ser uma estratégia promissora para a morte dessas células e na redução das reservas inativas.
Dentre outras proteínas estudadas estão a VRC07-a-rhesusCD3 e a PKC412, que se propõem ativar as células por diferentes mecanismos, direcionando os linfócitos T na eliminação da célula infectada.
No que diz respeito à vacina para prevenção do HIV, apenas um estudo da Tailândia (2009) conseguiu mostrar uma modesta eficácia, em 31%, com uma proteína chamada ALVAC/gp120, mas que ainda está em análise para avaliar a resposta imunológica responsável pela eficácia da vacina e se os resultados, quando testados, serão eficazes para a população alvo. Os resultados finais estão previstos para 2020.
Uma outra possibilidade, de um estudo da Suíça, é uma proteína chamada NYVAC, que pretende ser mais potente na resposta às células CD4 e CD8, como uma possível alternativa ao ALVAC.
De forma geral, os resultados não são animadores, pois há muita variabilidade genética no vírus e, por isso, alguns estudos se concentram na identificação da anatomia e estrutura do HIV, como também na compreensão da resposta imune humana à patógenos complexos como esse.
Há um único relato no mundo de cura do HIV.
Inicialmente chamado de paciente de Berlin, Timothy Ray Brown, diagnosticado em 1995, em uso regular de terapia antiretroviral, realizou um transplante de medula com células que apresentavam uma mutação chamada CCR5 Delta 32 no CD4, que as fazem praticamente imunes ao HIV, já que bloqueiam a entrada do vírus na célula. Isso ocorreu em 2007, quando Thimothy parou de usar os antiretrovirais a pedido médico. Em 2008, foi realizado um novo transplante. O HIV não é mais detectado em Thimothy. Você pode ver o relato pessoal completo aqui (texto em inglês).
Ao final do seu relato, Thimothy escreve "Eu não quero ser a única pessoa no mundo curada do HIV; eu quero que outros pacientes com HIV se juntem ao meu clube. Eu quero dedicar minha vida ao suporte de pesquisas para encontrar a cura do HIV!" (tradução livre)
Enfim, o que temos hoje são estudos experimentais com potencial e grande empenho da ciência em testar sua eficácia e aprimoramento para um melhor tratamento e possível cura do HIV. Você pode acompanhar alguns avanços pelo Timothy Ray Brown Foundation e no World AIDS Institute.
Para saber mais
Olesen R, Vigano S, Rasmussen TA, Ouyang Z, Buzon M, Bashirova A, et al. Innate Immune Activity Correlates with CD4 T Cell-Associated HIV-1 DNA Decline during Latency-Reversing Treatment with Panobinostat. Virol Journal. 2015
Saunders KO, Wang ML, Joyce G, Yang ZY, Balazs AB, et al. Broadly Neutralizing Human Immunodeficiency Virus Type 1 Antibody Gene Transfer Protects Nonhuman Primates from Mucosal Simian-Human Immunodeficiency Virus Infection. Virol Journal, 2015
Referências
Koff WC. A shot of AIDS. Curr Opin in Biotech. 2016, 42:147-151
Girard MP et al. Report of the Cent Gardes HIV Vaccines Conference, Part 2: The cellular immune response. Fondation Mérieux Conference Center, Veyrier-du-Lac, France, 25–27 October 2015. Vaccine. 2016
Lim HK, Kyung-Chang S, Junseock S, Younghyun Y, Cheol-Hee K, et al. Synergistic Reactivation of Latent HIV-1 Provirus by PKA Activator Dibutyryl-cAMP in Combination with an HDAC Inhibitor. Virus Research. 2016
Pegu A, Asokan M, Wu L, Wang K, Hatayel J, Casazza JP, et al. Activation and lysis of human CD4 cells latently infected with HIV-1. Nature Comun. 2015
Ao Z, Zhu R, Tan X, Liu L, Chen L, Liu S, et al. Activation of HIV-1 expression in latently infected CD4+ T cells by the small molecule PKC412. Virology Journal. 2016, 13:177
Crank MC, Wilxon EMP, Novik L, Enama ME, Hendel CS, Gy W, et al. Safety and Immunogenicity of a rAd35-EnvA Prototype HIV-1 Vaccine in Combination with rAd5-EnvA in Healthy Adults (VRC 012). PLOS ONE. 2016
Brown TR. I Am the Berlin Patient: A Personal Reflection. AIDS research and human retroviruses. 2015.
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