Tenho HIV, e agora?
- Equipe Et Al
- 1 de dez. de 2016
- 3 min de leitura

Por Gustavo Cambraia Giraldes
Pense nessa pergunta por um momento. E agora?
Frases como “como vou contar para minha família e a pessoa que eu amo sobre isso?”, “como eu contraí?”, “tem tratamento?”, “minha aparência vai piorar” e até mesmo “minha vida acabou” ou “posso morrer a qualquer momento” são comuns de serem ouvidas. Certamente essas frases passaram pela cabeça de pessoas que foram diagnosticadas com HIV no mundo e você pode ser uma delas. A última estimativa da OMS de 2015 mostra que há 36,7 milhões de soropositivos no mundo atualmente. Se você é uma dessas pessoas, você não está sozinho(a) e, sim, tem muita gente vivendo. E vivendo bem.
O diagnóstico de HIV pode ser assustador por questões culturais, ou seja, pela falta de conhecimento, ausência de tratamento, falta de investimento do governo e a alta mortalidade no princípio dos anos 80. Além disso, o HIV tem carregado ao longo de sua história um importante estigma - um “atributo indesejável” que deteriora a identidade do indivíduo, algo que você não quer carregar.
No que esse fator cultural junto do estigma da doença resultam? Entre as possibilidades, destaco isolamento social e baixa adesão ao tratamento.
Muitas pessoas soropositivas têm medo de falar sobre sua doença, contar para seus parceiros sexuais, colegas de trabalho, família e cuidadores por conta desse “atributo indesejável”. Podem esconder a verdade para buscar os antirretrovirais no posto de saúde ou também podem fingir que a doença “não está lá”, afetando sua vida social, amorosa, seu trabalho ou sua própria saúde.
É certo contar a todos que você possui HIV? Não necessariamente. É errado? De novo, não necessariamente. O que é importante, então?
Manter uma rotina semelhante à que você possuía antes do adoecimento pode ser um bom sinal de adaptação. Fazer atividades físicas e ter uma boa alimentação também são importantes para a sua saúde. Mas esses fatores são potencializados quando você tem informação e ajuda.
Toda adaptação se dá em passos e, preferencialmente, em passos que sejam do tamanho da sua perna. Informação e ajuda (tanto de profissionais da saúde quanto de familiares e amigos) irão te ajudar a dar esses passos com segurança. Cada pessoa reage de forma única ao adoecimento e por esse motivo não há forma única de lidar com a doença. Compreenda quais são os seus medos (e todos os temos, não tenha medo de reconhecê-los) e quais são as suas necessidades, assim você saberá como, onde e com quem buscar ajuda. Pense que é um investimento para que você possa viver mais e melhor! É algo que vale a pena.
Identifique pessoas que podem te ouvir sem te julgar quando precisar desabafar, pessoas que te auxiliem com tarefas que você tenha dificuldade e, claro, pense também em alguém que possa te ajudar a se distrair e se divertir quando sentir necessidade. A sua vida não se resume à sua doença. Busque alternativas, ajuda e recomendações sobre como retomar sua saúde, suas atividades e seus laços sociais e afetivos com segurança e conforto!
Para conhecer mais sobre opções de testagem, tratamento e aconselhamento, visite o site de IST/Aids do Ministério da Saúde. O tratamento de HIV é um direito seu garantido pelo SUS. Você também pode encontrar dados internacionais a respeito do HIV no site da OMS (site em inglês).
O autor é psicólogo, formado pela Universidade Federal de Santa Catarina e atua principalmente no âmbito da saúde pública. Email de contato: gustavocambraia@outlook.com
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