Sobre ferro, anemia e seu tratamento
- Fernanda Ramos
- 16 de dez. de 2016
- 3 min de leitura
A anemia é um problema de saúde pública e é a deficiência nutricional mais comum no mundo, mesmo nos países desenvolvidos. Os mais afetados são crianças, mulheres em idade fértil e gestantes. Nós já falamos um pouco de ferro e ferritina em mulheres em idade fértil. Ela é diagnosticada quando há redução dos valores esperados de hemoglobina e, a partir disso é preciso investigar suas causas.
Há mais fatores que podem causar anemia além da deficiência de ferro, como deficiência de vitamina B12 e ácido fólico, associada a malabsorção, doenças crônicas ou a perda sanguínea por exteriorização.
Ou seja, não é porque se tem um resultado de hemoglobina baixa que automaticamente seja necessária suplementação medicamentosa de ferro ou aumento do consumo de alimentos ricos nesse micronutriente. É verdade que estima-se que ⅓ da população mundial tenha anemia, e destas, cerca de 50% é causado pela deficiência de ferro. Mas, não criemos pânico!

A deficiência de ferro impacta negativamente na saúde e por isso foram desenvolvidas políticas públicas para sua prevenção, como recomendado pela OMS. No Brasil, em 2002, a Política Nacional de Fortificação de Ferro de Ácido Fólico das farinhas de trigo e milho foi aprovada e a obrigatoriedade de adequação dos produtos foi determinada, com o objetivo promover o aumento do consumo do micronutriente em diversas preparações, que não só nos alimentos fonte, como fígado, carnes, feijões, gema de ovos.
Quando a anemia é por deficiência de ferro, o tratamento preconizado é a suplementação medicamentosa, via oral ou intravenosa. Mas, tenho certeza que você já ouviu alguma receita milagrosa para o tratamento da anemia ferropriva.
Fazendo uma busca rápida no Google encontrei muitas! As que mais aparecem são receita do suco de beterraba com laranja, feijão cozido com beterraba, e uma outra receita de suco de abacaxi com salsinha; outras tantas com mistura de frutas e folhas. Vale lembrar que a biodisponibilidade do ferro dos alimentos de origem vegetal varia entre 2 a 10% do total de ferro presente, muito menor comparado aos alimentos-fonte de origem animal, que chega em até 40%.
Na tabela a seguir, coloquei a quantidade de ferro por 100g dos alimentos fonte e dos alimentos mais usados na receitas.
Tabela 1. Quantidade de ferro presente em alimentos selecionados.

Fonte: TACO, 2011
Conclusão: pra chegar na dose medicamentosa necessária pela alimentação tem que consumir uma quantidade muuuiiito grande dos alimentos que aparecem nessas receitas! É claro que a alimentação pode contribuir no tratamento e após ele, na manutenção de doses adequadas de ferro sérico, mas não pode nem deve ser a única alternativa para o tratamento de anemia por carência de ferro.
Então, por favor, não venha com histórias de que beterraba é rica em ferro, ta bom? ;p
E o mais importante, procure um médico e um nutricionista para se tratar adequadamente!
Referências
Peyrin-Biroulet L, Wiliet N, Cacoub P. Guidelines on the diagnosis and treatment of iron deficiency across indications: a systematic review. Am J Clin Nutr 2015;102:1585–94.
Jimenez K, Kulnigg-Dabsch S, Gache C. Management of Iron Deficiency Anemia. Gastroenterology & Hepatology. 2015; 11(4).
WHO, FAO, UNICEF, GAIN, MI, & FFI. Recommendations on wheat and maize flour fortification. Meeting Report: Interim Consensus Statement. Geneva, World Health Organization, 2009
BRASIL. Resolução - RDC no 344, de 13 de dezembro de 2002. Brasilia, 2002 NEPA. Tabela Brasileira de Composição de Alimentos 4ª edição revisada e ampliada. Campinas: NEPA- UNICAMP, 2011. 161 p.
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