Precisamos falar sobre Jejum Intermitente!
- Fernanda Ramos
- 10 de mar. de 2017
- 3 min de leitura
Apesar do boom dos últimos meses, devido ao impulsionamento feito pela mídia, o jejum intermitente não é uma prática nova. Há alguns anos ela existe com algumas variações com o objetivo de perda de peso.
O jejum intermitente é o termo usado para nomear um padrão alimentar em que se alternam períodos de jejum e alimentação. Há um período de jejum entre 14 e 24 horas, seguido de uma janela alimentar, em que se pode fazer quantas refeições julgar necessário. Nos períodos de jejum, em alguns esquemas, é permitido beber água e outras bebidas não calóricas.
Metabolicamente, corresponde a submeter o organismo ao estresse, fazendo-o liberar hormônios contra-regulatórios afim de manter a glicemia sanguínea em níveis adequados. Nesse momento há mobilização de gordura para geração de energia, mas também há mobilização de massa muscular.

Recentemente um estudo da University of Southern California, trouxe novamente o método à tona, mas dessa vez como uma possível cura para o Diabetes.
Publicado pela Cell em fevereiro de 2017, Cheng et al avaliaram ratos alimentados por quatro dias com uma dieta hipocalórica, hipoproteica, hipoglicídica e hiperlipídica, recebendo metade da ingestão calórica diária normal, seguido de três dias com 10% da ingestão calórica normal, com 10 dias de realimentação entre os três testes feitos. Ao analisar o pâncreas desses ratos, encontraram naqueles com Diabetes tipo 1 e tipo 2 produção de insulina restabelecida, redução da resistência à insulina e possível regeneração das células beta, responsáveis pela secreção de insulina.
Vale ressaltar que o estudo mostrou resultados promissores, mas ainda são necessários estudos para validação desses achados em seres humanos.
Em 2016 o estudo de Carter et al, mostrou que entre os indivíduos com Diabetes tipo 2, dois dias de jejum, seguidos por cinco de alimentação habitual é igual a restrição calórica contínua na melhora do controle glicêmico e na redução de peso.
Especificamente para perda de peso a literatura é escassa e as evidências baixas, especialmente porque a maior parte dos estudos é feito com animais.
Numa revisão sistemática de 2015, ao ser avaliado o jejum intermitente no tratamento de sobrepeso e obesidade em adultos, não foi encontrada diferença entre o jejum intermitente e o tratamento dietético usual a médio prazo.
Resultado semelhante foi encontrado no estudo de Harvie & Howell e não se encontrou evidências de segurança do método a longo prazo na perda de peso no tratamento de sobrepeso e obesidade.
Por outro lado, em 2016, Mattson et al mostrou que em ratos submetidos ao jejum intermitente houve melhora da sensibilidade de insulina e leptina, redução a gordura corporal, redução dos níveis de pressão arterial, redução da inflamação, aumento da resistência cerebral e cardíaca ao estresse e melhora a resistência ao Diabetes. Foi encontrado também retardo no tempo de progressão de disfunções e degeneração neurológicas, como no Alzheimer e Parkinson.
Antoni, em 2017, também mostrou possíveis benefícios do jejum intermitente, na homeostase de glicose e lipídeos a curto e médio prazo, sendo necessários estudos desse tipo a longo prazo.
Resumindo:
Parece que jejum intermitente tem benefícios metabólicos? Sim
Há segurança na sua prática? Não ainda, pois não são conhecidos efeitos a longo prazo e os estudos precisam ser validados em humanos.
Jejum intermitente pode ser usado para emagrecimento? Melhor não, pois é relatado que após o período de jejum e retorno à alimentação habitual há reganho de peso. Os possíveis benefícios metabólicos são mantidos, mas o peso não.
O que fazer então com todas essas informações? Ficar de olho no que a ciência vai produzir e aguardar resultados confiáveis e consistentes.
Referências
Cheng CW, Villani V, Buono R, Wei M, Kumar S, Yilmaz OH, et al. Fasting-Mimicking Diet Promotes Ngn3-Driven β-Cell Regeneration to Reverse Diabetes. Cell, 2017.
Jane L, Atkinson G, Jaime V, Hamilton S, Waller G, Harruson S. Intermittent fasting interventions for the treatment of overweight and obesity in adults aged 18 years and over: a systematic review protocol. JBI Database System Rev Implement Rep. 2015 ;13(10):60-8.
Antoni R, Johnston KL, Collins AL, Robertson MD. Effects of intermittent fasting on glucose and lipid metabolism. Proc Nutr Soc. 2017;16:1-8.
Mattson, M.P., et al., Impact of intermittent fasting on health and disease processes. Ageing Res. Rev. 2016.
Harvie M, Howell A. Potential Benefits and Harms of Intermittent Energy Restriction and Intermittent Fasting Amongst Obese, Overweight and Normal Weight Subjects—A Narrative Review of Human and Animal Evidence. Behav. Sci. 2017.
Horne BD, Muhlestein JB, Anderson JL. Health effects of intermittent fasting: hormesis or harm? A systematic review.Am J Clin Nutr. 2015; 102:464–70.
Carter S, Clifton PM, Keogh JB. The effects of intermittent compared to continuous energy restriction on glyaemic control in type 2 Diabetes; a pragmatic pilot trial. Diab Research and Clin Pract. 2016.
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