Quem canta seus males espanta!
- Fernanda Ramos
- 31 de mar. de 2017
- 3 min de leitura
Na semana que passou um vídeo de um residente médico cantando para uma menina internada, que dançava com a música, viralizou e muita gente comentou e compartilhou o vídeo.
Muito fofo, né?
Aqui no Et Al a gente adora falar sobre ciência, como você já sabe, e o assunto que surgiu é ótimo pra gente procurar saber mais. Então, o tema desse post é MUSICOTERAPIA!
Quem nunca se pegou cantarolando ou imitando os movimentos de um instrumento musical daquela música que não sai da cabeça? Ou ligou o rádio pra fazer a trilha sonora da faxina ou da espera do trânsito? Ou que, quando coloca uma playlist das boas nem vê o tempo passar?
A música faz bem pra todo mundo em várias situações. E, enquanto terapia, tem uma série de benefícios, desde melhorar o humor, regular emoções e diminuir o estresse, até poder acionar emoções, estimular a cognição, os pensamentos e as memórias.
Imagina então todos esses benefícios usados enquanto terapia não farmacológica no tratamento de doenças? É isso que a ciência tem mostrado, com resultados animadores e importantes, ainda que com evidência fraca, já que os estudos feitos até o momento são pequenos.
Uma revisão sistemática de 2011 mostrou que ouvir música diminuiu os sintomas de depressão em adultos, mesmo sem a intervenção profissional na aplicação de técnicas de musicoterapia.
A musicoterapia tem técnicas baseadas na interação entre música, sons, instrumentos musicais e canto, com profissionais especializados que desenvolvem intervenções para facilitar as habilidades sociais, de comunicação, sensoro-motoras, emocionais, cognitivas e musicais.
Os estudos de musicoterapia e seus benefícios são mais comuns em demência e autismo.
Osman et al, em 2016, trabalhou com grupos de intervenção com música, chamados “Singing for the Brain” para pessoas com algum tipo de demência e seus cuidadores. Ele observou resultados na melhora da interação social, promoção de relaxamento e redução dos níveis de agitação, com benefícios relacionados a qualidade de vida.
Na doença de Alzheimer, muitos estudos mostram que a musicoterapia é benéfica na melhora da cognição e na redução de sintomas neuropsiquiátricos. Um estudo japonês feito com pessoas com Alzheimer que cantaram suas músicas favoritas em karaokê durante 6 meses houve redução dos sintomas neuropsiquátricos.
Além disso, as emoções provocadas pela música são um importante meio de reviver memórias no processo de demência. Fang et al (2017) mostra que no Alzheimer a musicoterapia tem potenciais efeitos na redução do declínio da cognição, especialmente nas memórias autobiográficas e na qualidade de vida.
No autismo as crianças são as mais estudadas e o que se observa é que experiências musicais advindas dessa terapia podem engajá-las a interações, fazendo da música um estímulo seguro e estruturado na prática de habilidades sociais, aumentando o engajamento comportamental, emocional e as interações sociais.
Em pacientes em cuidados paliativos essa prática tem sido cada vez mais incentivada. Um estudo deste ano da Cleveland Clinic observou que a musicoterapia afeta positivamente os sintomas físicos como dor, fadiga, falta de ar, desconforto e tensão e que há ainda benefícios nos sintomas emocionais como ansiedade, raiva, depressão, tristeza, medo, humor, estresse e qualidade de vida.
A música é efetiva em ajudar a expressar sentimentos, melhorar a comunicação entre a pessoa com seus familiares e amigos e, para os cuidadores, acaba sendo uma oportunidade de se comunicar e demostrar carinho.
A música, o cantar e as interações com instrumentos musicais, unidos ou em separado tem a função de conectar e estimular muitas partes do cérebro. Audição, linguagem e interação com o meio! Incrível, né?
Tem um documentário que vale muito a pena ser visto sobre o assunto. Confere o trailer dele aqui:
Referências
Osman SE, Tischler V, Schneider J. ‘Singing for the Brain’: A qualitative study exploring the health and well-being benefits of singing for people with dementia and their carers. Dementia. 2016; 15(6), 1326–1339.
A Blythe LaGasse. Social outcomes in children with autism spectrum disorder: a review of music therapy outcomes. Patient Related Outcome Measures Dovepress.. 2017; 8 23–32
Fang R, Ye S, Huangfu J, Calimag DMusic therapy is a potential intervention for cognition of Alzheimer’s Disease: a mini-review. Translational Neurodegeneration. 2017; 6:2.
Gallagher LM, Lagman R, Bates D, Edsall M, Eden P, Janaitis J, et al. Perceptions of family members of palliative medicine and hospice patients who experienced music therapy. Support Care Cancer. 2017.
Chan MF, Wong ZY, Thayala NV. The effectiveness of music listening in reducing depressive symptoms in adults: a systematic review. Compl Therap Med. 2011; 19, 332-348
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