Alergias alimentares: avanços da ciência
- Fernanda Ramos
- 11 de mai. de 2017
- 2 min de leitura

Os últimos 10 anos foram marcados por aumento significativo do conhecimento sobre alergias alimentares e nos próximos 10 anos muitas respostas poderão ser consolidadas com a possibilidade de sair da bancada para a prática clínica. E tem muita gente afim de ver isso acontecer!
A Alergia Alimentar é definida como um efeito adverso decorrente da exposição/consumo de um alimento por meio de uma resposta imune específica, que pode ser mediada por IgE, mista IgE e não-IgE ou por processo imune mediado por célula.
Há alto risco de mortalidade nas reações alérgicas a determinados alimentos e por isso, pesquisadores tem se empenhado em terapias específicas de prevenção e tratamento.
Muitos estudos sobre prevenção primária tem sido publicados recentemente e a gente já falou um pouco sobre isso no post “Prevenção de alergias alimentares”.
Atualmente, o tratamento convencional inclui uso de anti-histamínicos dependendo do tipo de reação alérgica, restrição à exposição ao alimento/alérgeno e administração de epinefrina em casos de anafilaxia. Para saber mais sobre como escolher melhor os alimentos/produtos alimentícios, confere o post “Alergia alimentar: como me proteger”.
Curiosamente, se tratando de uma reação adversa a exposição/consumo de alimentos, já é reconhecido que o tipo de cocção influencia na tolerabilidade destes. Sabe-se que, em geral, o aquecimento diminui a alergenicidade de determinadas proteínas, como ocorre com o leite e com o ovo, por exemplo. Por outro lado, a cocção seca de oleaginosas pode aumentar a alergenicidade devido à reação de Maillard produzida no processo.
Quanto as novas terapias, estudos estão em fase de testes e alguns deles são baseados em desensibilização.
A desensibilização é feita através de imunoterapia em diferentes vias de administração, sendo a mais comum a via oral. Ela envolve administração gradual de doses crescentes de antígeno por determinado período de tempo (de meses a anos).
A ideia é gerar hiporresponsividade alergênica, que nada mais é que o sistema imune não reconhecer o alérgeno e, por consequência, não iniciar a cascata inflamatória quando o alimento é ingerido de forma controlada.
Resultado: pode haver necessidade de maior quantidade de alimento para produzir reação alérgica ou mesmo supressão dessa reação. E isso é bem interessante nos casos de exposição acidental.
É relevante entender que se o tratamento for suspenso, os efeitos não são contínuos.
É importante saber ainda que não há liberação para uso de imunoterapia pelos órgãos reguladores, como FDA e ANVISA, há necessidade de mais estudos para garantir segurança no uso dessa terapia e que há efeitos adversos importantes, incluindo alguns relados de anafilaxia.
Falta dose adequada, falta esclarecer qual a melhor via de administração e como reduzir os efeitos colaterais, mas é uma promessa bem interessante de tratamento.
Associado a desensibilização, terapias complementares estão em teste, como o uso de probióticos na regulação intestinal da resposta imune.
E afinal, fica o desafio para os próximos anos: desenvolver imunoterapia específica para cada tipo de alergia alimentar e também gerar meios de reduzir a resposta alérgica em geral.
Referências
Moore LE, Stewart PH, deShazo RD, Food Allergy: What We Know Now, The American Journal of the Medical Sciences, http://dx.doi.org/10.1016/j.amjms.2016.11.014
Hamad A, Burks WA. Emerging Approaches to Food Desensitization in Children. Curr Allergy Asthma Rep (2017) 17: 32
Nakagura K, Sato S, Yanagida N, Ebesawa M. Novel imunotherapy and treatment modality for severe food allergies. Curr Opin Allergy Clin Immunol 2017, 17:212–219
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