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O intestino pode influenciar nas emoções?

  • Fernanda Ramos
  • 20 de mai. de 2017
  • 3 min de leitura

E a resposta é SIM!!!!

A gente já falou como o sistema gastrointestinal se conecta ao sistema nervoso no controle de fome e saciedade.

Nos últimos anos a microbiota intestinal tem sido extensamente estudada e muitas funções e características vem sendo descobertas e elucidadas.

A microbiota compreende uma complexa comunidade de bactérias para manter a homeostase orgânica. São, em sua maioria, bactérias anaeróbicas dos filos bacteroidetes e firmicutes e, dentre as funções desempenhadas destacam-se: barreira intestinal, produção de ácidos graxos de cadeia média, componente do sistema imune inato, estimulação da síntese e metabolismo de nutrientes, hormônios, vitaminas e compostos neuroativos.

Uma publicação de 2004, particularmente, chamou a atenção de neurocientistas por apresentar os seguintes resultados: no estudo com ratos germ free foi observada uma interação bidirecional intestino-cérebro, como respostas neuroendócrinas exageradas ao estresse, acompanhado de elevadas concentrações de hormônios do estresse e bioquímica cerebral alterada, normalizada com administração enteral de uma cepa de Bifidobactéria.

A princípio gerou-se desconfiança até que em 2013 o National Institute of Mental Health (NIMH) fez um investimento grande no projeto de exploração dos mecanismos envolvidos na comunicação intestino-cérebro, visando o desenvolvimento de medicamentos ou tratamentos não invasivos para os transtornos mentais. E isso representou um grande avanço para esta área.

Comunicação bidirecional microbiota-cérebro. Fonte: Mayer etal,2014

Comunicação bidirecional microbiota-cérebro. Fonte: Mayer etal,2014

Sabe-se (e a gente também sente) que fatores de ordem emocional e o estresse podem afetar a composição e a atividade da microbiota intestinal. Da mesma maneira, comprovou-se que mudanças na microbiota podem afetar o comportamento emocional e algumas áreas do sistema nervoso central e, possivelmente, pode ter papel na fisiopatologia de algumas doenças como autismo, ansiedade, depressão e dor crônica, bem como pode contribuir no controle desses transtornos.

Essa interação entre a composição da microbiota, a bioquímica cerebral e o comportamento pode ser particularmente importante nas janelas críticas de neurodesenvolvimento.

O mecanismo molecular específico para esses comportamentos e alterações bioquímicas ainda não são bem entendidos e também é verdade que grande parte dos estudos são experimentais, mas os poucos estudos em humanos apresentam resultados bem legais!

Alguns pesquisadores começaram a analisar o mecanismo com uso de probióticos. Em ratos, algumas cepas de Bifidobactérias e Lactobacilos tem apresentado efeitos benéficos na ansiedade e depressão e alguns estudos encontraram eficácia no alívio da dor e na manutenção de memória.

O estudo de Tillisch et al., de 2013, foi realizado com mulheres saudáveis sem nenhum sintoma gastrintestinal ou transtornos psiquiátricos, separadas em grupo tratamento com probiótico e grupo controle. O teste fMRI foi realizado antes e após quatro semanas de tratamento. O grupo probiótico mostrou redução na resposta da insula e do córtex somatossensorial, com redução na resposta a estímulo ambiental negativo.

Wang et al, em 2016, reforçou que a microbiota intestinal modificada por probióticos pode atuar nas funções do sistema nervoso central e melhorar transtornos psiquiátricos.

E a comunicação não é só feita pelo sistema nervoso autônomo e nervo vago diretamente e indiretamente pelo sistema nervoso entérico. Ela é feita também pelo sistema endócrino e imune.

Incrível, né?

Referências

Friedrich MJ. Unraveling the Influence of Gut Microbes on the Mind. JAMA. 2015

Mayer EA, Knight R, Mazmanian SK, Cryan JF, Tilisch K. Gut Microbes and the Brain: Paradigm Shift in Neuroscience. The Journal of Neuroscience. 2014; 34(46):15490–1549

Tillisch K, Labus J, Kilpatrick L, Jiang Z, Stains J, Ebrat B, Guyonnet D, Legrain-Raspaud S, Trotin B, Naliboff B, Mayer EA. Consumption of fermented milk product with probiotic modulates brain activity. Gastroenterology. 2013; 144:1394–1401.

Wang HX, Wang YP. Gut Microbiota‑brain Axis. Chin Med J. 2016; 129:2373‑80.

Wang H, Lee IS, Braun C, Enck P. Effect of probiotics on central nervous system functions in animals and humans: A systematic review. Journal of Neurogastroenterology and Motility. 2016; 22(4), 589–605.

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