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Afinal, o que se sabe sobre o herbicida glifosato?

  • Fernanda Ramos
  • 19 de jul. de 2017
  • 4 min de leitura

E a palavra-chave é: PO-LÊ-MI-CA!

O glifosato é um herbicida de amplo espectro, desenvolvido em 1950 e registrado em 1974. É um agrotóxico popular pela eficiência em matar ervas daninhas a baixo custo e ter rápida absorção pelas plantas. Além do cultivo, ele é aprovado em alguns países para uso em áreas urbanas e jardins. Atualmente é o herbicida mais amplamente utilizado em todo o mundo e movimentou mais de U$5 bilhões em 2011.

O glifosato é o ingrediente ativo de mais de 750 herbicidas, compostos por 36 a 48% da substância, e não é usado sem os adjuvantes, que são considerados diluentes inertes por não serem responsáveis diretamente pela atividade pesticidas, atuando na melhoria da ação do glifosato, na adesão do herbicida na superfície da planta ou facilitando a penetração nas pareces celulares das plantas.

Essa lista de adjuvantes não é de acesso público e cada fabricante tem uma formulação diferente. Ou seja, a composição real dos herbicidas com base de glifosato não é conhecida.

Sempre considerado um herbicida seguro, por atuar na inibição de uma enzima encontrada apenas em plantas, o glifosato tem suscitado dúvidas no que diz respeito às evidências dessa segurança, visto que se observa uma maior exposição ao produto nas últimas décadas e que a ação combinada com os adjuvantes pode potencializar efeitos não encontrados isoladamente. Adicionalmente, ele tem sido usado como dessacante de colheitas para acelerar a secagem natural dos grãos, o que pode levar ao aumento do nível de resíduo de glifosato nos produtos.

A exposição ao solo e água é inevitável durante a pulverização na folhagem. A meia vida tanto do glifosato quanto do AMPA (ácido aminometilfosfônico), seu metabólito bioativo mais prevalente, pode ser longa, entre 1 a 150 dias no solo, e os determinantes para essa degradação incluem a combinação das propriedade bioquímicas do solo e a diversidade e a atividade microbiana. No ser humano a sua eliminação é via renal.

A exposição prolongada tem gerado preocupação quanto a sua toxicidade, os efeitos ambientais e na saúde de animais e de seres humanos.

De forma geral, a maior parte dos estudos são laboratoriais, in vitro ou in vivo, e há falta de estudos epidemiológicos e de longo prazo dos diversos meios de exposição e suas relações com doenças.

Na exposição via dieta, a Joint Meeting on Pesticides Residues concluiu que seria improvável determinar risco de câncer em humanos advindos de exposição ao glifosato por esta via. A FAO recomenda exposição diária máxima de 1mg/kg de glifosato e AMPA via dietética.

Em peixes, tem sido encontrada associação do glifosato em alteração no desenvolvimento reprodutivo e na indução de estresse oxidativo por inibição enzimática, que pode induzir a dano no DNA.

Em ratos, são sugeridos danos no fígado, rins e coração.

Sobre câncer, em 2015 o grupo de trabalho da International Agency for Research on Cancer (IARC) da Organização Mundial de Saúde (OMS) classificou o glifosato como substância possivelmente carcinogênica, com evidências limitadas em humanos e consideradas suficientes em estudos laboratoriais. Estavam incluídos aqui estudos sobre glifosato e herbicidas a base de glifosato.

Em 2016, a European Food Safety Authority (EFSA) publicou conclusões diferentes da IARC, afirmando que é improvável que o glifosato seja carcinogênico. Esta publicação contou com estudos realizados apenas com glifosato isolado.

Com tudo isso evidenciou-se a presença de conflito de interesses nos estudos e na regulamentação do glifosato (algumas das pesquisas eram financiadas pelas empresas fabricantes), podendo influenciar na integridade das tomadas de decisão.

E desde então são encontrados vários estudos na literatura, sempre com resultados divergentes. Ora se encontra relação com Linfoma não-Hodkin e outros tipos de câncer, ora não. Ora se observa alterações endócrinas e em outras análises não. E o que a gente realmente sabe? Pouca coisa!

Vandenberg LN, Blumberg B, Antoniou MN, et al. Is it time to reassess current safety standards for glyphosate-based herbicides? J Epidemiol Community Health 2017;71:613–618.

Bai SH, Ogbourne SM. Glyphosate: environmental contamination, toxicity and potential risks to human health via food contamination. Environ Sci Pollut Res. 2016

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Changa ET, Delzella E. Systematic review and meta-analysis of glyphosate exposure and risk of lymphohematopoietic cancers. Journal of Environmental Science and Health. 2016.

Rodrigues LM, Oliveira R, Abe FR, Brito LB, Moura DS, Valadares MC et al. Ecotoxicological assessment of glyphosate-based herbicides: effects on different organisms. Environmental Toxicology and Chemistry 2017

Tarazona JV, Court-Marques D, Tiramani M, Reich H, Pfeil R, Istace F et al. Glyphosate toxicity and carcinogenicity: a review of the scientific basis of the European Union assessment and its differences with IARC. Arch Toxicol. 2017

Solomon KR. Glyphosate in the general population and in applicators: a critical review of studies on exposures. Crit Reviews in Toxic. 2016

Gary M. Williams, Marilyn Aardema, John Acquavella, Sir Colin Berry, David Brusick, Michele M. Burns, Joao Lauro Viana de Camargo, David Garabrant, Helmut A. Greim, Larry D. Kier, David J. Kirkland, Gary Marsh, Keith R. Solomon, Tom Sorahan, Ashley Roberts & Douglas L. Weed. A review of the carcinogenic potential of glyphosate by four independent expert panels and comparison to the IARC assessment, Critical Reviews in Toxicology. 2016.

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