Como prevenir o desenvolvimento de demências?
- Fernanda Ramos
- 26 de jul. de 2017
- 3 min de leitura
Ou, nunca é tão cedo nem tão tarde para cuidar da saúde do cérebro!
Ao contrário do que se pensava, a demência não é uma consequência inevitável do envelhecimento e existem potenciais fatores modificáveis de saúde e estilo de vida que podem prevenir ou adiar seu desenvolvimento, o que representa um grande ganho.
A demência não tem cura e é um problema de saúde pública global, advindo do aumento da expectativa de vida. Em 2015 aproximadamente 50 milhões de pessoas viviam com demência em todo o mundo e esse número tem previsão de triplicar até 2050. Ela causa incapacidade e dependência nos indivíduos acometidos, bem como afeta a família e os cuidadores, que tem alto risco de desenvolver depressão e transtornos de ansiedade.
Os mais atingidos pelo crescimento da incidência de demência são os países de baixa e média renda per capita, enquanto os países de maior renda vêm apresentando taxas estáveis.
Os sintomas, que provavelmente representam o estágio final da doença, e o diagnóstico ocorrem geralmente nos estágios mais avançados da vida, embora as alterações patológicas cerebrais sejam iniciadas muitos anos antes, entre 40-65 anos, e é sugerida então uma janela de oportunidades para intervenção nos fatores de risco durante esse período.
Sabe-se ainda que nem todos serão beneficiados considerando que 65% do risco de desenvolvimento de demência é genético.
São 9 potenciais fatores de risco, responsáveis por 35% do desenvolvimento de demência, identificados em revisão publicada pelo Lancet , em julho/2017:

Figura 1. Potenciais mecanismos cerebrais para estratégias preventivas em demência.Traduzida e adaptada de Livingston et al, 2017
Baixo nível educacional: educação formal reduzida está relacionado à menor reserva cognitiva e menor resiliência cerebral na presença da doença.
Prejuízo na audição: é um fator relativamente novo associado ao prejuízo na performance cognitiva e na interação ambiental.
Hipertensão arterial: pode acelerar o desenvolvimento de demência pela neuropatia da doença e pela redução da capacidade de reserva cognitiva.
Obesidade: relacionada à inflamação e risco cardiovascular
Tabagismo: relacionado à aterosclerose e risco cardiovascular
Depressão
Sedentarismo: a prática de exercício físico tem efeito neuroprotetivo, reduz o risco vascular e há redução de cortisol (hormônio do estresse), embora as evidências não sejam fortes.
Isolamento social: relacionadas à baixa atividade cognitiva e declínio cognitivo mais rápido.
Diabetes: associado a aterosclerose e acidente vascular encefálico (AVE), neurodegeneração e alterações microvasculares mediadas pela glicose.
Outros fatores não inclusos:
Dieta: ainda não existem trabalhos suficientes para estabelecer critérios, embora seja um fator importante.
Risco cardiovascular: sua prevenção e redução altera significativamente os riscos identificados.
O estudo FINGER (The Finnish Geriatric Intervention to Prevent Cognitive Impairment and Disability), de 2015, em acompanhamento dos participantes durante dois anos mostrou efeitos positivos na performance cognitiva em intervenções multimodais (dieta, exercício físico, treino cognitivo e monitoramento de risco vascular).
Você deve ter notado que as intervenções identificadas também são capazes de conferir outros benefícios à saúde e são seguras de vários pontos de vista, e que a implementação de estratégias com alvo no estilo de vida e nos fatores de risco identificados envolvem, além da saúde pública, os setores de educação, trabalho e agricultura, por exemplo.
Livingston G, Sommerlad A, Orgeta V, Costafreda SG, Huntley J, Ames D, et al. Dementia prevention, intervention, and care. Lancet. 2017
Frankish H, Horton R. Comment: Prevention and management of dementia: a priority for public health. Lancet. 2017
Scarmeas N. Multimodal dementia prevention — does trial design mask efficacy? Nature Reviews Neurology. 2017
Prince M. Progress on dementia - leaving no one behind. Lancet. 2017.
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