Doenças Relacionadas ao Glúten
- Fernanda Ramos
- 13 de set. de 2017
- 3 min de leitura
Já faz um tempo que o glúten está em evidência, especialmente pelo crescente número de pessoas aderindo a restrição ao glúten como uma mudança do estilo de vida. A gente até já fez um post sobre as consequências à saúde relacionados a isso.
No entanto, é necessário enfatizar que a dieta sem glúten é primordialmente tratamento para os transtornos relacionados ao glúten, e que diferente do que muitos pensam, não são transtornos relacionados apenas a desconforto abdominal e diarreia após seu consumo e sim a uma série de sintomas que se não tratados podem ameaçar a vida.

O trigo está entre os alimentos mais importantes na história da alimentação e é também um dos principais componentes da dieta ocidental, junto com centeio e cevada.
Entre as proteínas desses cereais estão albumina, globulina, gliadina e glutenina, importantes componentes para a formação do glúten, que determina a extensibilidade, elasticidade e força de massas a base desses alimentos. São essas proteínas as principais responsáveis pelo gatilho dos transtornos relacionados ao glúten.
O problema é que muitas pessoas fazem a restrição ao glúten sem diagnóstico adequado, criando uma certa confusão a respeito das condições que efetivamente precisam ser tratadas com essa dieta.
Aqui vai então, pra te manter bem informado, um resumo desses diferentes transtornos.
Doença celíaca:
É uma doença autoimune crônica precipitada pela ingestão de alimentos que contém glúten; afeta o intestino delgado em crianças e adultos geneticamente predispostos. A prevalência da doença no mundo é de 1% e a maior incidência acontece na infância, entre 12 e 36 meses de vida.
A doença celíaca é caracterizada por uma combinação variável de manifestações clínicas, anticorpos específicos e enteropatia. A clínica inclui desde quadros assintomáticos a sintomas digestivos e extra digestivos.
Os principais são dor abdominal, diarreia crônica intermitente, constipação crônica, vômitos, perda de peso, distensão abdominal e desnutrição (em casos de diagnóstico tardio). É comum encontrar anemia ferropriva refratária a suplementação oral de ferro, fadiga, dermatites herpetiformes, osteopenia/osteoporose, atraso no desenvolvimento puberal, infertilidade e abortos de repetição.
Alergia ao trigo:
É uma reação imunológica de tipo hipersensibilidade a proteínas do trigo e não só ao glúten. Se caracteriza pela presença de sintomas digestivos, respiratórios e cutâneos, que tem como gatilho a exposição ao trigo via alimentar ou respiratória. Pode evoluir a anafilaxia.
O tratamento é evitar a exposição a proteínas relacionadas ao trigo via cutânea, gastrintestinal e respiratória.
Sensibilidade não celíaca ao glúten ou intolerância ao trigo:
É uma condição caracterizada por manifestações digestivas e extra digestivas relacionadas a ingestão de trigo, quando já descartado doença celíaca e alergia ao trigo.
Hoje sabe-se que proteínas presentes no trigo e não somente o glúten são gatilhos para sua manifestação, embora os mecanismos biológicos relacionados ainda não estejam bem estabelecidos.
O tratamento é restrição ao glúten de acordo com a sintomatologia, ou seja, depende da sensibilidade ao trigo, podendo haver pessoas com intolerância maior ou menor, e consequente ingestão segura maior ou menor.
Os sintomas são principalmente gastrintestinais, mas também cansaço, dor muscular ou nas articulações, manifestações cutâneas, alterações de humor e problemas respiratórios.
A prevalência do transtorno é desconhecida já que muitas pessoas acometidas não são diagnosticadas por um profissional da saúde e já iniciam restrição ao glúten sem orientação.
Para todas essas condições, o correto diagnóstico é feito da combinação de história clínica, sintomas e testes de sorologia e histológicos.
E, finalmente, é bom ressaltar que a restrição ao glúten deve ser feita apenas quando necessário, com acompanhamento de profissional qualificado, já que pode levar a deficiências de nutrientes e desequilíbrio alimentar.
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