Diabetes e cirurgia bariátrica: nova possibilidade de tratamento?
- Fernanda Ramos
- 9 de nov. de 2017
- 3 min de leitura
Na semana passada o Conselho Federal de Medicina publicou um parecer que facilita a realização de cirurgia bariátrica em diabéticos tipo 2 de difícil controle.

Aí você me pergunta: o que isso significa na prática?
Pra começar vale ressaltar que ser submetido a cirurgia bariátrica não é algo simples. Ao contrário, significa realizar profundas mudanças no modo de se alimentar, de se enxergar, de estar inserido na sociedade. Exige planejamento, acompanhamento por vários profissionais antes e depois do procedimento; exige, ao final, preparação e aprendizado para enfrentar todas essas mudanças e manter-se saudável.
Critérios para a realização da cirurgia: IMC (Índice de Massa Corpórea) maior que 40 kg/m2 ou superior a 35 kg/m2 com comorbidades associadas, como diabetes e hipertensão.
No parecer brasileiro há ampliação dos critérios para IMC entre 30 kg/m2 e 34,9 kg/m2, com idade entre 30 e 70 anos, tempo de diagnóstico menor de 10 anos, resposta insuficiente do tratamento clínico (medicação e mudanças de estilo de vida) e ausência de dependência química.
Esse novo parecer do CFM está baseado em diversos estudos que mostram diminuição importante dos sintomas do Diabetes tipo 2 após a cirurgia bariátrica.
Essa redução ou desaparecimento dos sintomas ocorre geralmente nos primeiros 2 anos após o procedimento e parece ser também independente da perda de peso. No entanto é relatado que pode haver retorno ou piora dos sintomas se houver reganho de peso.
Já em 2009 uma revisão da Cochrane mostrava redução dos sintomas entre 57% a 95% dos indivíduos, dependendo da técnica cirúrgica utilizada. Revisões sistemáticas e metanálises mais recentes mostram algo em torno de 70%.
Os melhores resultados são encontrados em pessoas mais jovens, com menor tempo de diagnóstico da doença e que não utilizam insulina.
Entre aqueles com tempo de doença maior que 10 anos, além de melhora de controle glicêmico menos efetivo e resolução do Diabetes tipo 2 menos frequente há também menor perda de peso após a cirurgia.
A variabilidade da glicemia tem sido um indicador interessante para medir a melhora dos sintomas a longo prazo associada a hemoglobina glicada, ainda que a curto prazo venha sendo observada melhora da variabilidade glicêmica antes mesmo de perda significativa de peso.
Isso mostra que há fatores adicionais a perda de peso que atuam no processo de remissão do Diabetes Tipo 2. Tem sido propostas algumas hipóteses, como:
alterações na secreção de hormônios do sistema gastrintestinal
alteração na fisiologia no sistema gastrintestinal por exclusão de absorção de nutrientes na primeira porção do intestino, comprometimento da secreção de grelina no estômago, e melhora da sensibilidade da insulina hepática pela restrição de energia proveniente de alimentos
redução da produção de glicose por metabolismo alternativo no intestino
melhora da sensibilidade periférica a insulina devido à perda de peso
tempo de esvaziamento gástrico e de trânsito intestinal reduzido
melhora da capacidade de secreção de insulina
alterações na microbiota intestinal
Aqui vale um novo lembrete de que apesar de poder ser considerada como opção de tratamento para o diabetes tipo 2 a realização da cirurgia bariátrica não deve ser a primeira opção e que mudanças de estilo de vida serão importantes tanto para o tratamento clinico quanto nessa nova possibilidade de tratamento para casos mais difíceis. Prós e contras da cirurgia bariátrica devem ser sempre avaliados individualmente.
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