Consumo de nozes e prevenção de câncer
- Fernanda Ramos
- 21 de set. de 2018
- 4 min de leitura
‘Comer nozes contribui na prevenção do câncer colorretal’ foi o que ouvi e o que me deixou curiosa para entender se a informação era real e quais os motivos pra especificamente as nozes e não seu grupo alimentar, as oleaginosas, terem essa capacidade.
E aqui vão algumas respostas sobre todas as descobertas que fiz sobre o tema, que é muito interessante!
As oleaginosas, como um todo, contêm uma grande variedade de compostos bioativos,

incluindo ácidos graxos monoinsaturados, ácidos graxos polinsaturados, baixa quantidade de ácidos graxos saturados, além de antioxidantes, fibras e minerais.
Sabe-se que o desenvolvimento do câncer está relacionado não somente a genética, mas principalmente aos fatores ambientais, como alimentação e atividade física.
O relatório da OMS sobre câncer, de 2015, mostrou que alimentação rica em carne vermelha, gorduras e especialmente as carnes processadas estão diretamente ligadas ao desenvolvimento de vários tipos de cânceres.
Foi aí que encontrei vários estudos dizendo que o consumo de nozes está associado a redução de risco cardiovascular, manutenção de saúde cerebral no envelhecimento e diminuição da taxa de crescimento de tumores em ratos.
Como assim diminuição da taxa de crescimento de tumores?!?!?!
As nozes (Juglans regia) são, entre as oleaginosas, as mais ricas em ácidos graxos polinsaturados, com a maior relação de ômega 3:ômega 6. Elas também tem altos níveis de tocoferol, carotenóides, polifenóis como o sitosterol e a elagitanina, e fibras.
Toda essa composição nos dá algumas vantagens biológicas, como:
modulação da microbiota intestinal (mais bactérias do bem!)
ação antinflamatória
Para o câncer colorretal, especificamente, são encontrados os seguintes resultados:
o ômega 3 e os ácidos graxos polinsaturados reduzem a inflamação e tem mostrado capacidade de reduzir a carga de pólipos em modelos animais de câncer de cólon
o sitosterol pode induzir a inibição da proliferação celular na primeira fase ou também na morte em células tumorais
polifenóis tem efeito anti carcinogênico
nas primeiras fases do desenvolvimento do tumor, a estrutura da microbiota influencia diretamente sua formação, mediada em parte pela formação de metabólitos do processo digestório.
Os estudos, ainda feitos in vitro ou em modelos experimentais, tem resultados bem bacanas! É claro que não podemos perder de vista que há necessidade de serem testados em humanos para verificar se há o mesmo resultado encontrado.
O estudo de Nakanishi, em modelos animais, demonstrou que o consumo de nozes reduziu o desenvolvimento do tumor de cólon, especialmente em ratos machos. E sugeriu que a suplementação de nozes pode suprimir o início e a promoção do tumor de cólon se consumida na quantidade adequada.
Foi encontrado também que a adição de nozes na alimentação foi capaz de aumentar a diversidade da microbiota intestinal, atuando na supressão do desenvolvimento tumoral. Houve aumento dos filos firmicutes (do bem!), incluindo Lactobacillos, Clostridium e Ruminococos.
Nagel et al, em 2012, encontrou que o consumo isocalórico de nozes foi capaz de inibir o crescimento do câncer colorretal e que o peso do tumor diminuiu na mesma medida. Na análise, foram encontradas áreas de necrose e indicação de suprimento insuficiente de sangue. Tudo porque houve também a redução da expressão de proteínas que fazem a formação de vasos sanguíneos, incluindo a VEGF.
O butirato, composto formado pela fermentação das fibras alimentares no cólon, tem mostrado capacidade de inibição de proliferação de células carcinogênicas. E as nozes tem mostrado serem mais efetivas entre as oleaginosas na geração de butirato durante a fermentação, observado in vitro.
Estudo feito com extrato fenólico de noz, mostrou que houve supressão da capacidade de renovação das células cancerígenas e sua proliferação.
Ainda, a alimentação contendo nozes tem resultados positivos na capacidade de inibição da taxa de crescimento tumoral em câncer de mama, redução do número de tumores mamários e retardo do crescimento de câncer de próstata, cólon e rim.
Todos os resultados mostram efeitos promissores, com melhores respostas quando houve consumo da noz como um todo e não sobre seus compostos isolados, mostrando que estes atuam de forma sinérgica na supressão do câncer.
As concentrações utilizadas nos estudos são equivalentes a cerca de 60g/dia (3 unidades), baseado numa dieta de 2000kcal/dia.
Avanços nessa área não necessários, especialmente em humanos, mas o consumo de nozes parece e pode ser uma opção atrativa na prevenção e controle do câncer, visto que está pronta para consumo, sem necessidade de processamento e está presente em várias culturas alimentares.
Nakanishi M, Chen Y, Qendro V, Miyamoto S, Weinstock E, Weinstock GM, Rosenberg DW. Effects of Walnut Consumption on Colon Carcinogenesis and Microbial Community Structure. Cancer Prev Res; 9(8); 692–703. 2016.
Byerleya LO, Samuelnb D, Blanchard E, Luoc M, Lorenzena BN, Banksa S, et al. Changes in the gut microbial communities following addition of walnuts to the diet. Journal of Nutritional Biochemistry. 2017.
Choi J, Shin PK, Kim Y, Hong CP, Choi SW. Metabolic influence of walnut phenolic extract on mitochondria in a colon cancer stem cell model. European Journal of Nutrition. 2018.
Nagel JM, Brinkoetter M, Magkos F, Liu X, Chamberland JP, Shah S, et al. Dietary walnuts inhibit colorectal cancer growth in mice by suppressing angiogenesis. Nutrition. 2012.
Hardman WE. Walnuts Have Potential for Cancer Prevention and Treatment in Mice. J. Nutr. 2014.
Lee J, Kim, YS, Lee JH, Heo SC, Lee KL, Choi SW, Kim Y. Walnut Phenolic Extract and Its Bioactive Compounds Suppress Colon Cancer Cell Growth by Regulatin Colon Cancer Stemness. Nutrients. 2016.

Comments