A ciência do PUM!
- Fernanda Ramos
- 17 de out. de 2018
- 3 min de leitura
Não adianta negar, todos soltam pum!
E o pum não é tão simples assim! Ele faz e atua em diversos processos metabólicos. Curioso? Que tal então conhecer um pouco mais sobre o assunto?

O pum é formado por nitrogênio (20-90%), oxigênio (4 a 10%), hidrogênio (20 a 50%), metano (9 a 30%), dióxido de carbono e sulfeto de hidrogênio (0,00028%) e essas proporções variam de acordo com a alimentação.
O que dá cheiro ao pum é o sulfeto de hidrogênio, que, como você pode notar, é uma fração mínima do conteúdo dos gases.
Uma parte do nitrogênio vem do ar que é engolido ou quando mastigamos a comida, já que esse gás é pouco absorvido no lúmen intestinal.
Os gases são formados por células do próprio organismo e por bactérias em processos enzimáticos e não enzimáticos.
São produzidos diariamente de 400 a 1200ml de gases pelo trato gastrintestinal, mas apenas uma pequena quantidade é eliminada via pum.
A maior parte dos gases são removidos do intestino por absorção e transferência para a corrente sanguínea e, ao chegar ao pulmão, são descartados pelo sistema respiratório.
É isso mesmo que você acabou de ler!
São exalados via sistema respiratório principalmente o hidrogênio e o metano.
Uma alimentação rica em carne vermelha estimula a formação de sulfeto de hidrogênio, já que há quantidade significativa de sulfato vindo das proteínas.
O volume de gases produzido depende da quantidade de alimentos fermentáveis consumidos e da composição e atividade metabólica da microbiota do cólon intestinal.
Os resíduos alimentares não absorvidos continuam a produzir gases mesmo após várias horas da última refeição.
Enquanto na primeira porção do cólon são favorecidas as produções de hidrogênio e dióxido de carbono, nas porções finais predominam a formação de espécies putrefativas, como sulfeto de hidrogênio, amônia e aminas.
E agora a parte mais legal!
Sabia que o PUM tem ação em vários sistemas do nosso organismo?
Os gases que produzimos são as menores moléculas biologicamente ativas do nosso corpo e podem facilmente penetrar em células dos sistemas neurológico, vascular e imune. Sua ação é similar aos neurotransmissores do nosso sistema nervoso, ao transmitir impulsos de uma célula nervosa a outra e, por isso, são chamados GASOTRANSMISSORES!
Os gasotransmissores começaram a ganhar atenção já na década de 1970 e de lá pra cá foram descobertas algumas funções.
Esses gases produzidos interagem com enzimas de dentro das células e com canais das membranas das células. Eles tem ação reguladora e mediadora no sistema nervoso e no comportamento.
Os gasotransmissores afetam a célula que o formaram (ação autócrina), as células adjacentes (ação parácrina) e tecidos e órgãos distantes (ação endócrina).
Uma pesquisa de 2016, liderada por Oleskin mostrou que uma classe dos neurotransmissores do nosso cérebro são substâncias gasosas, produzidas em vários órgãos e tecidos, incluindo os gases do intestino.
Entre as colônias de bactérias que produzem gases estão Archaea, Bacteroides, Bifidobacterium, Butyrivibrio, Clostridium, Collinsella, Coprococcus, Desulfovibrio, Eubacterium, Lactobacillus, Prevotella, Propionibacterium, Roseburia, entre outras.
A quantidade de sulfeto de hidrogênio produzido, o gás que dá cheiro ao pum, está relacionada a uma proteobactéria, a B wadsworthia, que faz alterações em moléculas para a formação desse gás.
Nosso cérebro usa gases como sulfeto de hidrogênio, amônia e monóxido de carbono para transferir informações entre suas células. A insuficiência de sulfeto de hidrogênio está relacionada a distúrbios psiquiátricos e mudanças patológicas em eletroencefalograma, já que atua como neuroprotetor.
Há ainda atuação do sulfeto de hidrogênio no sistema cardiovascular, que também é regulado pelo óxido nítrico.
O óxido nítrico, um dos mais importantes gasotransmissores, também atua como neurotransmissor envolvido na regulação de aprendizado e atividades cognitivas.
A amônia é um dos gases nos faz entender com mais facilidade a ação dos gasotransmissores no nosso organismo.
Esse gás, que atua no sistema nervoso, quando em excesso é acumulado no cérebro, devido a distúrbios do trato gastrintestinal, como nas doenças hepáticas, levando a diversas alterações de comportamento, condição chamada de encefalopatia.
Isso significa que uma alimentação equilibrada e microbiota saudável te dá um pum muito mais saudável! 😉
Aqui vai um vídeo do canal Manual do Mundo sobre o pum:
E aqui outro do canal It's Okay to be smart (em inglês):
EurekAlert! Science News.The mysterious farting. 2016
Oleskin AV, Shenderov BA. Neuromodulatory effects and targets of the SCFAs and gasotransmitters produced by the human symbiotic microbiota. Microbial Ecology in Health & Disease 2016, 27: 30971.
Manichanh C, Eck A, Varela E, Roca J, Clemente JC,3 González A, et al. Anal gas evacuation and colonic microbiota in patients with flatulence: effect of diet. Gut. 2014;63:401–408.
Mego M, Accarino A, Malagelada JR, Guarner F, Azpiroz F. Accumulative effect of food residues on intestinal gas production. Neurogastroenterol Motil. 2015. 27, 1621–162

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