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Dor crônica: como a alimentação pode ajudar?

  • Fernanda Ramos
  • 4 de set. de 2018
  • 4 min de leitura

Pessoas com dor crônica apresentam inflamação e estresse oxidativo exacerbados, com elevados níveis de citocinas proinflamatórias no sangue e nos tecidos.

Recentemente tem sido sugerido que uma alimentação específica pode ter efeito modulador dessas alterações orgânicas, resultando em melhora dos sintomas.

Já se conhece que o controle de peso e manutenção de um peso adequado são importantes no controle da dor e da inflamação. A redução de gordura corporal reduz a liberação de leptina e das citocinas proinflamatórias produzidas pelas células de gordura, melhorando o estado de inflamação.

Ainda, em estudos de modelos animais com dor neuropática e inflamatória, vários nutrientes tem mostrado efeito ao estímulo de dor.

Dentre os nutrientes, o magnésio tem ganhado destaque por ser antagonista fisiológico de um receptor iônico (N-metil-D-aspartato) que atua na sensibilidade no sistema nervoso central. Parece que o mineral produz efeito analgésico, possivelmente pelo bloqueio desse receptor iônico na medula espinhal. Alguns estudos clínicos mostram que o magnésio é capaz de reduzir o consumo de medicamentos opióides (para dor) e aliviar a dor no pós-operatório, ao mesmo tempo que não aumenta o risco de efeitos adversos dos opióides.

Mas como isso funciona na prática? Vamos falar em alimentos?

  • Água

Apesar de não estar muito claro o mecanismo, a baixa hidratação parece gerar ativação da sensação subjetiva de sede dentro de um sistema projetado para detectar entradas sensoriais negativas, ativando o centro de dor do sistema nervoso. A piora da dor também pode possivelmente estar relacionada ao aumento das concentrações de cortisol no sangue pela na baixa hidratação.

  • Frutas e vegetais folhosos

Frutas e vegetais contêm vitaminas, minerais, antioxidantes, compostos bioativos e fibras. Quanto maior o seu consumo menor a ocorrência de inflamação e estresse oxidativo. Há relatos na literatura de diminuição dos níveis da proteína C reativa, presente em estado de inflamação, em dietas ricas em frutas e vegetais.

Além disso, a ingestão de frutas e vegetais estimula a produção de butirato pelas bactérias do cólon, no intestino, a partir das fibras. Consequentemente há redução da inflamação da mucosa intestinal por diminuição da atividade da NFκβ em indivíduos com colite ulcerativa.

  • Legumes

Há benefícios relatados na redução das concentrações séricas de marcadores inflamatórios, como PCR, IL6 e TNF α, independente de peso.

Além disso, os legumes são ricos em fibras insolúveis, interessantes para as pessoas com constipação induzida por opióide.

  • Carboidratos com baixo índice glicêmico/carga glicêmica

O consumo excessivo de carboidratos com alto índice glicêmico pode contribuir para o aumento do estresse oxidativo e da inflamação, em dor aguda e crônica, por meio da estimulação de produção de componentes pró inflamatórios.

  • Azeite de oliva e azeitonas

Ricos em ácidos graxos monoinsaturados e compostos bioativos, como os polifenóis, o consumo desses alimentos tem efeito anti-inflamatório, antimicrobiano e antioxidante.

  • Carnes

O consumo excessivo de carne vermelha está associado a um estado inflamatório.

Já a introdução de peixes como as anchovas, sardinhas, atum, cavalinha e o peixe espada, que contém maiores quantidade de ácidos graxos polinsaturados, na alimentação cotidiana, tem efeitos antiinflamatórios, provenientes desses ácidos graxos.

  • Iogurte

O uso crônico de morfina, um opióide, induz mudanças na composição da microbiota intestinal e determina o crescimento de bactérias patogênicas, como observado em estudos de modelo animal, tendo como consequência o desequilíbrio da microbiota intestinal.

Nessa situação, o consumo de iogurtes, que podem conter probióticos e prebióticos, é interessante na prevenção de alterações da microbiota intestinal e também por agir no controle da constipação.

  • Nozes e sementes

Sementes e nozes contém ácidos graxos que melhoram efeitos antiinflamatórios e inibem a produção periférica de marcadores inflamatórios, como IL6, IL1 e TNFα.

As nozes são uma das principais fontes de magnésio da dieta, que tem seu destaque no controle da dor.

Foi desmonstrado ainda que o consumo de pistache por tempo prolongado teve efeitos antiinflamatórios.

Já as sementes de abóbora possuem efeitos antioxidante e anti-inflamatório pelo alto teor de vitamina E.

É recomendado o consumo de 30g/dia de nozes e sementes para contrabalancear atividade proinflamatória em pessoas com dor crônica.

  • Temperos e especiarias

A cúrcuma, que contém curcumina, atenua o efeito de maior sensibilidade à dor induzida por medicamentos opióides.

Orégano, canela, alecrim, tomilho e pimenta preta contém β-cariofileno, um composto volátil que atua no receptor canabinóide tipo 2 no sistema nervoso, que modula a inflamação. O composto foi capaz de reduzir a dor e neuro-inflamação em modelos animais.

  • Ovos

Contém vitaminas do complexo B, minerais, colina e carotenoides com efeitos antiinflamatórios.

  • Vinho tinto

O consumo de doses moderadas de vinho (cerca de 125ml/dia para mulheres e 250ml/dia para homens) é útil na prevenção de doenças inflamatórias. Possui flavonóides, como a quercitina e a miricetina, catequinas e epicatequinas, proantocianinas, antocianinas e resveratrol.Seu consumo no controle da dor crônica é contraindicado quando há uso contínuo de medicamentos opióides e benzodiazepínicos.

  • Álcool

O consumo de álcool está contraindicado, visto que aumenta os efeitos colaterais dos opióides e pode levar a morte.

  • Doces

O excesso de doces, e de açúcares simples, tem efeito pró inflamatório. Seu consumo é possível de forma moderada.

  • Suplementação dietética

O uso de suplementos vitamínicos e minerais pode ser considerado para pessoas com dor crônica, especialmente as vitamina D, B12, zinco, selênio e fibras.

A literatura sugere que a deficiência de vitamina D está associada a dor crônica. É recomendável sua dosagem para que seja feita suplementação se necessário.

Alguns estudos em humanos mostram que a suplementação de vitamina B12 pode ser efetiva e segura para pessoas com dor na coluna.

A suplementação de fibras pode ser importante no alívio da constipação, como complemento da fibra vinda dos alimentos.

A suplementação de zinco e selênio, componentes e cofatores de proteínas que atuam na redução do estresse oxidativo, pode ser considerada em caso de deficiência.

A alimentação com componentes anti-inflamatórios tem demonstrado resultados promissores como tratamento adicional à dor crônica. Além disso é acessível, variada e o mais importante, gostosa!

Rondanelli M, Faliva MA, Miccono A, Naso M, Nichetti M, Riva A, et al. Food pyramid for subjects with chronic pain: foods and dietary constituents as anti-inflammatory and antioxidant agents. Nutrition Research Reviews, 2018. doi:10.1017/S0954422417000270

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